Relações precoces:
· O bebé não é um ser passivo
- Os fetos com sete meses já têm relações diferenciadas
- Após o nascimento, o bebé já discrimina sensações
· O bebé troca sinais com as figuras parentais (regulação mútua):
- Manifestam as suas necessidades
- Manifestam as suas emoções
· A regulação mútua permite respostas adequadas:
a) O choro
- Há 4 tipos de motivação para o choro: fome, desconforto, frustração, dor;
- Provoca reacções de preocupação, de responsabilidade e de culpa.
b) O sorriso
- Só aos 2/3 meses, é que o sorriso passa a ser intencional e activo;
- Aos 6 meses, constitui já um acto social dirigido a figuras preferenciais.
c) As expressões faciais
- As expressões faciais revelam a expectativa de uma resposta;
- Mas, a nossa leitura depende muito das nossas convicções.
d) As vocalizações
- Funcionam como estímulo para as vocalizações dos adultos;
- A troca adquire a forma de conversação.
- O bebé vocaliza por imitação
As competências da mãe
Relação bebé/mãe (até aos 18 meses: Eric Erikson):
- Confiança/desconfiança (segurança/medos e receios);
- Estes 18 meses são fundamentais no futuro do indivíduo;
- Irão permitir encarar o mundo de forma positiva, ou não.
Relação mãe/bebé (modelo continente-conteúdo: Wilfred Bion)
Conteúdo: medos, emoções e angústias vividos pelo bebé
Continente: a mãe é depositária dos sentimentos do bebé
Face à ansiedade vivida pelo bebé, a mãe irá…
a) Interpreta-la como teatral – agrava a situação de ansiedade (a mãe não é continente)
b) Ficar alarmada – passa para o bebé a sua própria ansiedade (a mãe não é continente)
c) Acolher a angústia e a ansiedade do bebé – transforma a inquietação em segurança (a mãe é continente)
A vinculação
Necessidade inata e básica do bebé para manter relações de proximidade e afectividade com as suas figuras preferenciais:
· Informa a mãe do desejo de interacção de bebé;
· Comportamentos de vinculação: o sorriso, a vocalização, o agarrar, o gatinhar, e o choro;
Os bebés devem ter várias figuras de vinculação:
a)Facilita a aprendizagem por observação;
b)A estimulação é mais rica e variada;
c) Uma relação de ansiedade pode ser compensada com uma outra relação mais segura.
O processo de vinculação permite a manutenção do nosso lado afectivo, está ligado à nossa atitude enquanto seres humanos. É este processo que nos caracteriza e nos faz ser quem somos.
É usual dividir o processo de vinculação em três fases:
1º. Até aos 6 meses: formam-se os processos de discriminação de figuras de vinculação. É importante a presença contínua de uma figura de vinculação (as separações devem ser breves).
2º. Dos 6 meses aos 3 anos: as crianças não só manifestam preferência por determinadas figuras, como revelam medo, cautela ou, inclusive, rejeição clara por outras.
3º. Após os 3 anos: a criança desenvolve uma vontade própria de compreende as acções do outro. O desenvolvimento da linguagem e da sua capacidade de pensar em função do tempo e do espaço aumenta as suas capacidades cognitivas e permite-lhe suportar o afastamento da figura de vinculação (essencial para o desenvolvimento da autonomia).
John Bowlby (psiquiatra inglês)
→ A personalidade é construída a partir das ligações precoces e socioafectivas da criança;
→ Estas ligações repousam sobre necessidades e fundamentos biológicos;
→ Na base do desenvolvimento humano está a sensação de confiança que prospera em ligações afectivas sólidas (vinculação).
Consequências das carências de vinculação:
· Relações afectivas futuras superficiais;
· Ausência de concentração intelectual;
· Incapacidade de realações interpessoais;
· Delinquência;
· Ausência de reacções emocionais, …
Harry Halow (psicólogo norte-americano):
→ As observações com macacos Rhesus (ver filme) levaram Horlow a colocar em questão a posição então dominante: o bebé vincula-se à mãe porque esta o alimenta.
→ Harlow e a sua equipa verificaram consequências progressivamente gravosas para privações sociais totais de três, seis e doze meses:
Isolamento total durante os três primeiros meses de vida:
- Reacções de medo e de fuga à socialização.
- Alguns morreram de anorexia, mas a maioria sobreviveu, aprendendo e adaptando-se à nova situação.
Isolamento total por um período de seis meses:
- Os jovens isolam-se, são incapazes de interagir, abraçam-se a si mesmos, apresentando reacções de terror.
- Mostram-se inábeis para aprender e para se adaptarem à nova situação.
- Ao chegarem à adolescência, tornam-se muito violentos em relação aos indivíduos da sua espécie, inclusivamente em relação às sua próprias crias, que chegam a matar.
Isolamento total durante os doze primeiros meses de vida:
- Apatia e indiferença completa;
- Ausência de qualquer comportamento de interacção social.
René Spitz (psiquiatra infantil e psicanalista) – o hospitalismo:
- A carência de cuidados maternos, de ternura, de relações interpessoais e de comunicação humana são a principal causa de mortalidade entre crianças criadas em instituições.
- Foi Spitz que caracterizou a síndrome de hospitalismo: síndrome resultante da ruptura de relação afectiva precoce caracterizado por atraso global do desenvolvimento (psíquico, relacional, mas também físico e biológico).
Os efeitos depressivos desta síndrome são devastadores e desenvolvem-se sequencialmente:
Primeiro mês de separação: a criança abandonada chora e procura a proximidade e conforto junto de outros seres humanos;
Segundo mês de separação: o choro contínuo vai dando progressivamente lugar ao lamento e ao gemido; perde peso e o seu desenvolvimento psico-motor é interrompido;
Terceiro mês de separação: a criança evita o contacto humano e a actividade motora, passa longas horas deitada e sofre insónias.
Consequências do hospitalismo:
· Atraso no desenvolvimento corporal;
· Fraca destreza manual;
· Dificuldades de socialização;
· Atraso na linguagem;
· Pouca resistência às doenças;
· Apatia, insónias e anorexia, …
Mary Ainsworth (psicóloga canadiana)
Descobriu uma situação experimental designada “situação estranha”:
Principais modelos de reacção da criança `”situação estranha”:
- Vinculação segura (descreve cerca de 65% das crianças):
- Mostra satisfação pela presença da mãe e explora o meio.
- Vinculação evidente (descreve 20-25% das crianças):
- Reprime-se, mostrando-se autónoma precocemente.
- Vinculação ambivalente (10-15% da amostra):
- É insegura e ansiosa; chora muito e explora pouco o meio.
- Vinculação desorganizada (segundo Mary Main):
- Aparece como a manifestação mais patológica.
Críticas à experimentação da “situação estranha”
- O modelo único de avaliação pode induzir em erro
- Não há acordo sobre o que é o comportamento desejável
O papel das relações precoces
- Capacita o indivíduo para se relacionar afectiva e socialmente com os outros;
- Permite o desenvolvimento de competências especificamente humanas;
- Sustenta a construção da identidade e a representação de si mesmo.
Os indivíduos que desenvolveram modelos seguros de vinculação:
· Procuram activamente novas informações e possuem estruturas cognitivas flexíveis.
· Lidam bem com a angústia e a ansiedade, permitindo-lhes o reajustamento adequado às exigências do meio.
· Têm expectativas positivas em relação a si mesmos e às relações interpessoais, o que os leva a investirem mais.
· A vinculação segura auxilia o indivíduo a proteger-se do mal-estar psicólogo:
a) Depressão, agressividade, consumo de álcool e drogas, raiva e ansiedade.
b) Revelam valores mais baixos de stress e manifestam reacções emocionais menos intensas.